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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Jack Black volta à escola do rock em "As Viagens de Gulliver"



Foto: Divulgação
Jack Black como o herói Lemuel Gulliver:
nome diferente, frases e figurino de sempre
Depois da ganhar atenção em "Alta Fidelidade" (2000) e o estrelato com "Escola do Rock" (2003), Jack Black descobriu a chave para seu sucesso. Tal qual um humorista consagrado, criou um personagem que, apesar de mudar de nome, mantém características básicas: paixão por rock clássico e cultura pop, inteligência proporcional à preguiça, inaptidão com as mulheres, empregos medíocres e muitas caras e bocas. Pois o mesmo personagem, assim como Didi Mocó em "Os Trapalhões e o Mágico de Oróz" e "O Mistério de Robin Hood", foi agora jogado num universo já conhecido – no caso, "As Viagens de Gulliver", adaptação "contemporânea" do romance de Jonathan Swift que chega nesta sexta-feira (15) aos cinemas em cópias convencionais e 3D.
Se o livro de Swift (recém lançado no Brasil pela Penguin) é considerado uma sátira da sociedade britânica do século 18 e da condição humana, o filme é, na melhor das hipóteses, uma paródia do original. Liberdades não faltam para fazer com que Black vá tocar "air guitar" na mítica Lilliput, terra habitada por homens minúsculos, com poucos centímetros de altura. Na nova versão, Lemuel Gulliver trabalha no setor de correspondências de um jornal de Nova York e não tem a menor ambição de sair dali – toma seu café, joga Guitar Hero no expediente e alimenta um amor platônico pela editora de turismo (Amanda Peet). Numa tentativa de agradar a garota, Gulliver aceita escrever uma matéria sobre o Triângulo das Bermudas. Pronto: um redemoinho no meio do oceano é o seu passaporte para ele chegar onde os roteiristas queriam.
No início, Gulliver, assustador para os pequenos liliputianos, é mantido como prisioneiro, mas logo se torna um aliado da família real, para desespero do vaidoso general Edward (Chris O'Dowd). Inventa que é presidente da ilha de Manhattan (seu vice é Yoda) e entretém os habitantes contando como suas as tramas de "Guerra nas Estrelas", "Titanic", "Avatar" e "Piratas do Caribe". A paródia, ou pastiche, são, de novo, as palavras de ordem.

Foto: DivulgaçãoAmpliar
Cena famosa do romance, recriada no filme
Lilliput vive na era medieval, mas da mesma forma que "As Loucas Aventuras de James West" levava a tecnologia ao Velho Oeste, engenhocas são comuns para os diminutos liliputianos – sistemas avançados de defesa protegem o reino e, mais para frente, um robô gigante, nos moldes daqueles dos seriados japoneses, vai aparecer na história. O efeito também é o mesmo da aventura estrelada por Will Smith: sorrisos amarelos, e olhe lá.
O problema de "As Viagens de Gulliver" é justamente esse, a falta de graça. Há na subtrama um triângulo amoroso traiçoeiro entre o general, a princesa indefesa Mary (Emily Blunt) e o plebeu Horácio (Jason Segel), único amigo de Gulliver, mas Black – também produtor executivo – precisa carregar nas costas o filme inteiro.
É verdade que eventualmente ele consegue. Seduzir a princesa usando os versos de um sucesso do Prince e colocar liliputianos maquiados como os roqueiros do Kiss têm lá seu apelo, mas as piadas musicais e os trejeitos do Didi Mocó de Black acabam cansando – a coreografia ao som da pacifista "War", de Edwin Starr, por exemplo, é constrangedora, perpetuando a escola Disney de moral da história.
O diretor Rob Letterman, aliás, só tinha animações no currículo: são dele "O Espanha Tubarões" (2004) e "Monstros vs Alienígenas" (2009), que contava com uma gigante na trama e, bem, está aí a ligação com "Gulliver". Já os roteiristas Nicholas Stoller e Joe Stillman têm um prazer especial em encher diálogos com as palavras "grande" e "pequeno", numa referência nada sutil às dimensões dos protagonistas. Stillman foi um dos responsáveis por inaugurar a franquia "Shrek". Dez anos e quatro filmes depois, ele devia saber melhor do ninguém que a fórmula de misturar contos de fadas e personagens literários com piadas modernas está desgastada.
O público norte-americano sabe disso e não engoliu o filme. "As Viagens de Gulliver" teve a pior estreia da carreira de Black e, até agora, arrecadou US$ 34 milhões na América do Norte, um quarto do orçamento de US$ 120 milhões, (mal) gasto em efeitos especiais da companhia de Peter Jackson e no formato 3D. Por sinal, está aí um belo exemplo de filme em que o uso dos desconfortáveis óculos especiais não compensa nada – as cenas em 3D são praticamente nulas. Se a ideia é rir de Jack Black voltando à escola do rock, uma sala convencional é mais do que suficiente.




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